A terapia familiar tem três princípios básicos: 1º- Pertencimento - Todos, na família, têm o mesmo direito de pertencer, assim, ninguém pode ser excluído, pois qualquer exclusão gera consequências terríveis para todos. 2º- Hierarquia - os pais são grandes, os filhos, pequenos: os filhos não podem substituir os pais de seus pais, nem podem ser mais importantes do que eles, devendo haver uma ordem de precedência ou hierarquia, ou seja, primeiro os pais, depois os filhos, começando pelo mais velho, incluindo os que não chegaram a nascer (aborto) e 3º- Equilíbrio - deve haver equilíbrio entre dar e receber.
Aceitar tudo o mais que nossos pais nos dão
Na verdade, os pais não dão aos filhos apenas a vida. Eles nos dão também outras coisas: alimentam-nos, educam-nos, cuidam de nós e assim por diante. Convém à criança (filho/a) que ela tome tudo isso, da forma como o recebe. Quando a criança o aceita de bom grado, costuma bastar. Existem exceções, que todos conhecemos, mas via de regra, é suficiente. Pode não ser sempre o que desejamos, mas é o bastante.
Nesse particular, pertence à ordem que o filho diga a seus pais: "Eu recebi muito. Sei que é muito, é o bastante. Eu o tomo com amor". Então ele se sente pleno e rico, seja qual for a situação. Então ele acrescenta: "o resto, eu mesmo faço". Isto também é um belo pensamento. Finalmente, o filho ainda pode dizer aos pais: "E agora eu os deixo em paz". O efeito destas frases vai muito fundo: agora o filho tem seus pais e os pais têm o filho. Pais e filho estão simultaneamente separados e felizes. Os pais concluíram sua obra e a criança está livre para viver sua vida, com respeito pelos seus pais mas sem dependência.
Imaginem agora a situação contrária, quando o filho diz aos pais: "O que vocês me deram foi errado e foi muito pouco. Vocês ainda estão me devendo muito". O que esse filho tem de seus pais? Nada. E o que têm dele os pais? Igualmente nada. Esse filho não consegue soltar-se de seus pais. Sua censura e sua reivindicação o vinculam a eles, mas de uma forma tal que ele não os tem. Ele se sente vazio, pequeno e fraco.
Esta seria a segunda lei do amor entre filhos e pais.
A perfeição
Alguém que rejeita ou despreza internamente um dos pais não está bem consigo mesmo (a), está dividido (a) e se sente vazio (a). Quando alguém está em conflito interno não está em harmonia consigo mesmo e quando se investiga isso se pode observar que o indivíduo excluiu um dos pais de seu coração ou até os dois. Por outro lado, quem toma seus pais e lhes dá a honra que lhes compete e um lugar em seu coração, está bem consigo mesmo (a), pois cada filho é a síntese do pai e da mãe. Este é o princípio da perfeição, que é completa quando incluir também os mortos, os excluídos e os esquecidos e só assim somos perfeitos e realmente livres para o nosso futuro, pois os mortos encontram a paz quando têm um lugar em meu coração, assim, posso deixá-los em paz e eles continuam a atuar em mim mesmo, estando mortos.
Quem rejeita ou julga seus pais, independentemente do que possam ter feito, costuma sentir-se incompleto e perdido. Por outro lado, quem aceita os pais como são, nada recusando deles, experimenta essa aceitação como um fluxo contínuo de energia e alimento que lhe permite ter outros relacionamentos em que também possa dar e receber, mesmo que seus pais tenham tratado mal esse/a filho/a.
Os filhos adquirem segurança interior e sentido claro de identidade quando aceitam e reconhecem ambos os pais como são. Sentem-se incompletos e vazios quando excluem um deles ou ambos de seu coração. A consequência da exclusão ou desprezo de qualquer um dos pais é a mesma: os filhos se tornam passivos e se sentem inúteis e essa é a causa mais comum de depressão.
Mesmo que tenham sido magoados pelos pais, os filhos ainda podem dizer: “Sim, vocês são os meus pais. Tudo o que esteve em vocês, está também em mim. Reconheço-os como pais e aceito as consequências disso. Fico com a parte boa do que me deram e lhes deixo a tarefa de enfrentar o destino de vocês como bem entenderem”.
Em síntese, a perfeição começa quando alguém está em harmonia consigo mesmo, pois quando alguém está desligado de um de seus pais tem somente a metade da força vital e quando alguém tem apenas a metade da força vital, fica deprimido.
Tomar os pais
Uma criança/um filho só pode estar de bem consigo mesma (o) quando tomar seus pais do jeito que são, sem avaliações morais, sem querer ou desejar algo diferente e exatamente do jeito que eles são, eles são certos. Quem toma os pais desse jeito está em paz consigo mesmo (a), sente-se completo (a) e seus pais estão presentes dentro de mim (você) com toda a força. Os filhos não podem tirar algo daquilo que foi dado pelos pais nem acrescentar nada, porque os filhos são seus pais e quem reconhece isso está em sintonia com algo maior.
A reverência aos pais
É o assentimento/a concordância à vida como você a recebeu, pelo preço que você a recebeu e ao destino que lhe é predeterminado. A reverência ultrapassa os pais, é o assentimento ao próprio destino, às suas chances, aos seus limites. Quem faz essa reverência (um ato religioso) fica livre. Nesse nível espiritual, não há cobranças, censuras, broncas, não há bons em maus, nada.
Pai e criança
O pai está sempre presente na criança e quando você rejeita o pai, rejeita também a criança, a qual sente isso e fica dividida e não pode ficar completa.
A vida é maior do que os pais
Olhar para longe, de onde vem a vida, tira o poder dos pais. Por um lado, libera o filho para tomar totalmente a vida assim como vem até ele, através dos pais. Por outro lado, os pais recebem através disso uma dignidade maior porque estão conectados a uma longa corrente de gerações passadas e isso libera ambos, pais e filhos. Nessa fase, o(a) filho(a) renuncia a qualquer censura contra os pais porque já não é mais relevante saber se houve culpa ou não, trata-se do nível espiritual, onde não há bons ou maus, todos estão no mesmo nível.
Honrar os pais
Honrar os pais liberta. Nós somos os nossos pais, nós os carregamos dentro de nós, por isso, a maior honra aos pais é quando alguém honra seus pais em si mesmo e quando isso acontece, sente-se bem consigo mesmo (a). Por isso, por mais que custe, é sempre bom repetir: “Querido pai/querida mãe, você continua a viver em mim e eu vou viver de forma que você possa se alegrar com isso. Eu lhe rendo homenagem, eu o (a) acolho no meu coração”. Para quem tem problemas com o pai ou a mãe, no começo vai custar muito dizer essas frases, mas elas precisam ser ditas, porque elas significam reconciliação, a condição para alguém estar em harmonia consigo mesmo e poder curar a depressão, por exemplo.
Fonte: Bert Hellinger, psicoterapeuta familiar, criador da terapia ou constelação familiar.